Como chegou até aqui?

segunda-feira, janeiro 29, 2007

pop of the tops chapéus militares e militarizados da américa do sul

Em matéria de chapéus de forças da ordem e agentes da autoridade, a América do Sul é - como noutros continentes, aliás - terreno fértil.

Neste top foi bastante difícil - como noutros continentes, aliás - encontrar um critério para escalonar os diversos exemplares disponíveis.

A bizarria foi, por isso, a opção mais fácil. Mas, mesmo nesse capítulo - como noutros continentes, aliás -, a tarefa afigura-se árdua, como veremos.

A Guardia Nacional da Venezuela enverga algo parecido com um fole castanho cansado, encimado por um berloque reluzente semelhante a um alvo. Deve ser difícil ser multado por alguém que utilize tal coisa. Portanto, para a Guarda National, o primeiro lugar.

Para segundo, a escolha recaiu na cobertura utilizada pelos generais dos Carabineros do Chile. Com um senhor frontespício, é um espécime que impõe respeito, tanto mais que apenso apresenta - como noutros continentes, aliás - um - vamos chamar-lhe assim - emblema inspirado em verduras e armamento. Nota alta também para a inclinação da superfície superior do dito.

O modelo tem diversos seguidores na América do Sul - como noutros continentes, aliás -, visto que também a Policia Nacional do Paraguai, a Guardia Nacional da Bolívia ou a Policia Nacional do Peru alinham pela mesma moda. Um grande abraço solidário para Carabineros e quejandos que têm de andar com isto na cabeça.

Na Guiana Francesa, os agentes da autoridade protegem a cabeça com algo parecido com uma enorme caixa de Cammenbert. O modelo da Gendarmerie Departementale não é de todo original - como noutros continentes, aliás -, sendo inspirado no seu homólogo francês - o ministério da administração interna gaulesa assim o obriga, certamente. Terceiro lugar.

Quarto lugar para o chapéu da Guardia Civil do Peru, que se apresenta ao cidadão com algo na cabeça que faria muitas omoletas fracassadas roer-se de inveja.

A fechar os cinco mais deste top, um modelo mais formal dos Carabineros da Colômbia, que, como tal - como noutros continentes, aliás - sofre de alguma rigidez no corte, antevendo-se algo desconfortável o seu uso.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

a quintessência renato carreira

Inventou um método revolucionário para impedir o pingo persistente nas torneiras e aos cinco anos escreveu "Os Maias", de Eça de Queiróis, além de que sofre de uma assumida fixação por meias de estilo. Mas não é por nada disso, nem sequer por ter sido visto a ser fotografado com um gelado de morango, banana e zabaglione à frente da cara, que a Renato Carreira foi lançado o convite para comentar às quintas-feiras os factos de cinco sétimos da semana.

Tão pouco pesou o incontornável pormenor de em tempos o autor do site mais feio e injustiçado de Portugal - Inépcia - ter sido entrevistado por diospirojoyeux. Recorde-se que então, há quatro anos, utilizou nas respostas 56 pontos finais. Melhor ainda: advoga a proibição de utilização de postas de peixe para fins de gratificação afectivo-sexual. Mas não, nada disso justifica este convite. Por alguma razão imperscrutável, aqui fica a primeira visão dos factos que a realidade nos dá por Renato Carreira - o homem, o mito, as meias, o comentador diospirojoyeux.


Comecemos por um facto que, não fazendo parte dos cinco sétimos da semana, é incontornável: sexta-feira, o imbeliscável Público noticiou a descoberta do Cyphochilus, o "besouro que espanta por ser tão branco"...

Pessoalmente, acho escandaloso que o flagelo da discriminação racial se estenda agora também ao mundo dos insectos. Porque não podemos viver todos em paz e fraternidade? Brancos e pretos, amarelos e vermelhos, besouros e centopeias, anémonas e rinocerontes? Deixo a questão no ar para quem conseguir encontrar uma resposta.

Já na Sérvia, o ultranacionalista Partido Radical foi o mais votado mas vai ficar fora do Governo. Surpreende-o este cenário?
Não me preocupa. Os sérvios são inofensivos (não são suficientemente castanhos para inspirar medo e muitos até têm olhos azuis). Devemos procurar o terror noutros países de culinária mais condimentada.

Num registo mais sério, o insuspeito Correio da Manhã publicou sábado uma notícia onde alertava para o facto de Elsa Raposo andar à procura de mulheres na internet. Um momento de reflexão para todos nós, homens?
Acho positivo. O lesbianismo garante que a senhora não continuará a engravidar de forma compulsiva. O mundo não precisa de mais crianças com traumas de infância.

Entretanto, soube-se que a China tem 900 mísseis apontados a Taiwan. Um destino a evitar ou até ao milhar não há muito a temer?
Até podiam ser 9000. A tecnologia balística chinesa é alimentada a pilhas e, se fossem disparados, os mísseis cairiam a meio do trajecto, espalhando pelo mar a carga letal de chop suey de gambas.

Sempre patusco, Cavaco Silva anunciou segunda-feira que vai comemorar o primeiro ano de mandato no Luxemburgo. Leitura nas entrelinhas?
A maior mais-valia de ter Cavaco como presidente é Maria Cavaco Silva, esse dínamo político. Creio que não vai desiludir os muitos admiradores que tem e, à semelhança do que fez na Índia com o Mahatma Gandhi, não evitará repetir em jeito de catatua amestrada a admiração por um luxemburguês célebre e consensual. Por exemplo, o antigo presidente da Comissão Europeia, Jacques Santer ou... Rosa... Luxemburgo... ou... o Sr. Luís Macedo, proprietário da única padaria de Ettelbruck que fabrica a genuína regueifa portuguesa. Até pode ser que aproveite a viagem para voltar a fazer confissões políticas embaraçosas (pode dizer, por exemplo, que é uma estalinista fervorosa). E também me parece positivo que a escolha tenha recaído sobre o Luxemburgo. Afinal, é a única colónia que nos resta.

No desporto nacional, António Fiúza foi suspenso por cinco meses e o Odivelas venceu o Mafra para a Taça...
Pois foi.

E Miccoli, está ou não com peso a mais?
Essas questões de peso são todas muito relativas. Por exemplo, dizer-se que o Fernando Mendes tem peso a mais e que é feio e irritante e ridículo e que tem um tom de voz insuportável e não diz coisa com coisa e é deprimente e... Peço desculpa. Qual era apergunta? Ah, o Miccoli. Bom, talvez o Miccoli devesse deixar de aceitar as encomendas de lasanha que a mãe lhe envia da Puglia.

"A vida que eu escolhi", de Tony Carreira, voltou ao primeiro lugar da tabela nacional de álbuns mais vendidos. Um choque?
Não. Quando os jornais revelarem que o segredo de Tony Carreira passa, parcialmente, pelo facto de ter duas pilas, aí sim teremos um choque como deve ser. (Mickael, o filho, não lhe herdou essa característica. As fãs que se acalmem. Tem só uma e meia.)

Por falar em choque, e para terminar esta primeira a quintessência, Luís Delgado culminou a sua coluna de segunda-feira no DN com um "Deus nos proteja...". O mundo está mesmo perigoso ou o referendo do aborto está perdido?
É sabido que, quando Luís Delgado diz "Deus nos proteja," o que quer dizer realmente é "Pedro Santana Lopes, amo-te muito e todas as noites sonho que te proporciono gratificação oral." Palavras para quê?

sábado, janeiro 20, 2007

eu é que sou o óscar de la renta psiché

antes de o.d.l.r-------------durante o.d.l.r.-------------depois de o.d.l.r.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

alucinário la valetta

Conduzia eu distraidamente o carro (crianças, não tentem isto em casa), ouvindo ainda mais distraidamente o rádio sintonizado na Antena 1, quando dei por qualquer coisa como isto:
"... e agora as temperaturas em Portugal: Porto, 15, Aveiro, 16, blábláblá..., Faro, 18, La Valetta, 12.
"

La Valetta...? LA VALETTA?!?! Sim, a temperatura de La Valetta, a capital de Malta, assim, sem mais nem menos. Ainda pensei que o Mário Crespo talvez tivesse mudado para a Antena 1. Mas não, não se seguiu nenhuma expiação histórica sobre as raízes do calvinismo ou a peste negra galopante. Apenas, sem qualquer explicação adicional, La Valetta.

Nem sou dos mais fervorosos adeptos de Malta, mas naturalmente que, depois disto, o boletim meteorológico da Antena 1 conquistou um ouvinte.

terça-feira, janeiro 16, 2007

há coisas que ninguém fotografava


suporte de ovos cozidos invertido, leiria, 2006

sexta-feira, janeiro 12, 2007

alucinário cataclismo

O ano ainda está no início e talvez tenha sido da ginja, mas esta foi já - espero eu -, muito provavelmente, a pior semana de 2007: comecei-a com a labirintite a fazer companhia à ciática, uma crise de fígado obrigou-me depois a beber um chá que sabia a Pronto e ontem à noite lembrei-me de afinar os pés da cama, o que me fez acordar hoje como se tivesse dormido com uma retroescavadora.

Estatisticamente as coisas têm agora tudo para correr a meu favor. Mas agora vejo que a semana só termina amanhã. Estou com medo.

terça-feira, janeiro 09, 2007

notas de prova ginja da d. fátima









D. Fátima, verdadeiro nome fictício de uma vizinha, teve a gentileza de me fazer chegar um frasquinho da sua ginja caseira. Agradeço. Longe de ser especialista, arrisco umas notas de prova sobre este licoroso líquido de cor mais clara que o habitual, que se apega às paredes do copo com a mesma vontade com que se passeia na língua do degustador.

A entrada na boca faz-se pela boca, preferencialmente. Quente, sedosa, invasora, a ginja da D. Fátima revela reminiscências aguardentes, sendo por isso persistente, insistente e até a atirar para o aborrecido, uma vez por outra - culpa da tonelada de açúcar que a senhora certamente mandou para dentro da panela.

No nariz - e nariz é coisa que não me falta - a intensidade é deveras pronunciada, mas o nariz que se aguente. A todo aquele licor a invadir-nos mansamente os recantos da boca perdoa-se tudo.

A cor ginja - como convém - mescla nuances grená escuro e anuncia um aroma potente, no mínimo, ideal para acompanhar uma lareira de Inverno ou outra. Evolui das frutas maduras à marmelada à fatia, escondendo um final de aromas retro nasais (o que quer que isto queira dizer - é da ginja, bolas).

O grand final é-nos proporcionado pelo fruto: o corromper invasor da pele faz-se através da perfuração crocante da pelicula, consorte ideal da polpa cremosa - não indicada para barrar no pão.

Obrigado D. Fátima.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

alucinário ilações

Para quê gastar dinheiro em álcool ou drogas se numa mísera viagem de alguns metros de barco se pode arranjar uma labirintite com grande grau de pureza?

E se algum dia o seu padecimento for criminalizado, o pior que pode acontecer é vir a discutida na Assembleia da República a construção de uns quantos labirintos nas grandes cidades.

domingo, janeiro 07, 2007

tvtrip sic comédia

Uma semana depois do fim, é tempo de lembrar uma amiga longínqua, viciada na frase-ritual de South Park: "Oh my god, they killed SIC Comédia! You bastards!"

O canal não era nada por aí além, mas era dos poucos por onde valia a pena fazer zapping. Mais vale um episódio do Seinfeld em que além de todas as piadas até já se sabe o que eles vão vestir do que a totalidade da programação do cabo.

(Claro que daqueles separadores hediondos com o Nuno Markl a dizer com voz de gastrópode gigante "A SIC Comédia na Beira Baixa", ou até mesmo "A SIC Comédia no Alto Minho", não ficam saudades nenhumas)
eu é que sou o óscar de la renta luís filipe vieira

antes de o.d.l.r.------------------------------- depois de o.d.l.r.

quinta-feira, janeiro 04, 2007

ainda bem que me faz essa pergunta catarina medina

Nasceu na aurora da década de 80, em Coimbra,
mas já tem contribuído e bem para a difusão da cultura em Portugal. Sobretudo a partir de Lisboa, onde Catarina Medina é responsável pela comunicação da associação cultural Alkantara. Escreve regularmente para o jornal Público, para as revistas Sábado, FEST, Elegy Ibérica e Storm e é presença assídua nesse verdadeiro banquete de tentações que é a agenda cultural Lecool.

Aprendeu com Urbano Tavares Rodrigues, Mário de Carvalho ou Ian Berry, realizou o documentário António Ramos Rosa, o poeta da modernidade, escreveu os contos Um eléctrico chamado Lisboa e Bairro Claro-escuro, este na brochura Trabalhos premiados Lisboa à letra. Não satisfeita, mantém o blog Callas em vez da televisão, sempre cheio de coisas recheadas de bom gosto.

Caranguejo, prefere camarão-tigre e ignora os signos. Vinicius de Moraes e Woody Allen estão entre as suas predilecções. Talvez por isso a abordagem tão airosa a este ainda bem que me faz essa pergunta, a verdadeira entrevista invertida - diospirojoyeux dá as respostas para o convidado fazer as perguntas.

Catarina Medina» "Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?"
diospirojoyeux» Concordo. Até Vinicius de Moraes disse uma vez: "Detesto tudo que oprime o homem, inclusive a gravata".

Catarina Medina» Sei que tentou começar a ler um livro de Paulo Coelho, mas passado 10 páginas desistiu. Qual o motivo?
diospirojoyeux» Apenas porque pensei que era uma boa altura para utilizar esse tempo de outra forma.

Catarina Medina» Lisboa enquanto sinónimo de "alfacinhas", ténis, encarnado, presente, pretensão "às serras e montanhas", filas de trânsito, "santanismo", histórias de túneis de metro intermináveis, chique-espertice q.b. e pais que insistem em tratar os filhos por você. É isso que a cidade significa para si?
diospirojoyeux» Lisboa não significa nada disso para mim.

Catarina Medina» Nos últimos 30 anos, deu-se um enorme crescimento do fenómeno comunicacional. Os avanços tecnológicos apresentam-se como principal motor?
diospirojoyeux» Ou isso ou algo como o facto de a comunicação mediatizada, com os desenvolvimentos traduzidos e incentivados quer pela globalização quer pela convergência, afirmar-se com uma importância cada vez mais acentuada na vida dos indivíduos e das colectividades.

Catarina Medina» "À mulher compete tornar a casa atraente e acolhedora, prestar ao marido a deferência e submissão como chefe de família" , disse Salazar em 1933. O mundo doméstico e a cozinha ainda vão ser por muito mais tempo um "território" feminino?
diospirojoyeux» A meu ver, a tendência será uma crescente divisão de tarefas. A cozinha não será, e já não é, neste momento, um "território" exclusivo das mulheres.

Catarina Medina» Revê-se no ideal da Mulher do Portugal salazarista?
diospirojoyeux» Mas o que é que lhe dá o direito de me perguntar tal coisa?! Respeito, sim?

Catarina Medina» Será o amor apenas uma ilusão, o apropriar de uma adoração tão simples e a sua transformação em algo sobre o qual uma pessoa se possa comprometer a estar lá e ganhar certezas que tornem tudo mais seguro?
diospirojoyeux» Nunca ponho mostarda nisso. Mas também não vou partilhar a minha dieta consigo.

Catarina Medina» Existe alguma fórmula mágica para não "esturrar" o coração?
diospirojoyeux» Frigideiras com fundo teflon e uma boa espátula de madeira, naturalmente.

Catarina Medina» A sociedade não aceita ainda a comunidade gay nem lhe garante os mesmos direitos civis. A que se deve esta falta de confiança?
diospirojoyeux» Falta principalmente seriedade na luta, estratégias coerentes e consistentes. Não é com festas e arraiais que se conquistam direitos, mas sim com estratégia e prática política. E muito, muito trabalho.

Catarina Medina» Se fosse criativo de uma empresa de uma qualquer marca de preservativos e tivesse de ter um excerto da poesia de António Ramos Rosa como slogan, qual seria?
diospirojoyeux» Se alguém me atribuísse tal coisa, dir-lhe-ia: "Não posso adiar o amor para outro século".